quarta-feira, 10 de julho de 2013


Pois é, aqui estou eu, falando das celebridades musicais brasileiras que ninguém sabe de onde saíram. Parece que o famoso Naldo está “despontando para o anonimato”. Sim, esse é o país dos  contrários. Inexplicavelmente, alguém aparece no horário nobre da Globo e já é apresentado como famoso. Não duvido que haja gente forte ligada à Globo agenciando o rapaz. Ninguém sobe ao trio elétrico de Ivete Sangalo da noite para o dia sem uma boa explicação. Ninguém vai parar no Fantástico para listar os petiscos de sua festa de casamento à toa. Ninguém desfila por toda a grade de programação da maior emissora do país sem uma Xuxa, sem uma Ivete Sangalo, sem um Luciano Huck, sem uma Regina Casé por trás.

Mas por que o famoso Naldo está “despontando para o anonimato”? É que o rapaz gravou seu DVD na quarta-feira passada, no Credicard Hall, em São Paulo. A casa tem espaço para sete mil pessoas, mas metade estava vazia. Numa matéria angustiante, o jornalista Rodrigo Ortega, do G1, deve ter sangrado ao começar seu lead: “O clichê de que a tecnologia dispensa talento nas grandes produções musicais não é verdade no caso de Naldo. Luzes, efeitos, chuva cenográfica, fantasia de ninja e adereços gigantes de gostos duvidosos da gravação em 3D não fizeram mais que o carisma do cantor de “Amor de chocolate” para impressionar o público.”

Depois disso, Rodrigo continuou seu texto na linha fina entre a vergonha e o profissionalismo, falando do público indo embora e das horas animadas. Falando de Ivete Sangalo e dos ônibus de fãs importados do Rio para encher a área VIP. Era um daqueles textos encomendados para mentir, mas o jornalista não conseguia mentir. Eu fico imaginando a quantidade de profissionais competentes que precisa ser artisticamente estuprada para fabricar a fama dos famosos Naldos. Camera-men que precisam esconder os vazios na plateia, técnicos de som que precisam tocar playbacks e enganar o público, produtores que precisam suportar o ego dos famosos Naldos…

A gravação começou com atraso de uma hora, durou mais de quatro, com 10 intervalos não programados de 15 minutos cada, já que o famoso Naldo não parecia preparado para a gravação. A coisa só piorou quando o público percebeu que o famoso Naldo cantava em playback, segundo o blogueiro Léo Dias, do jornal O Dia. A fama do famoso Naldo começou há quatro anos, segundo leio numa entrevista de sua ex-mulher. A moça dirigiu um clipe do marido, com quem casou aos 14 anos, no qual o famoso Naldo contracenava com a famosa Não Sei O quê Moranguinho. A famosa Não Sei O quê Moranguinho, que dia desses estava explicando ao Fantástico sobre os drinks do casamento, inspirados nas músicas do famoso Naldo, pegou o famoso Naldo.

A ex e a famosa Moranguinho se conheceram na casa do jogador Adriano Imperador. Eu não julgo o famoso Naldo nem a famosa Não Sei o Quê Moranguinho. Eu não julgo o que teria levado a música brasileira aonde ela se encontra. O que não compreendo é por que a Rede Globo, tão cuidadosa, por exemplo, quando o assunto é jornalismo e causas sociais, tem como missão musical acabar com a música no país. Há um longo desfile de famosos Naldos saídos dos fornos da emissora e, sinceramente, não sei por que as pessoas se incomodam tanto com o braço jornalístico da Globo, que estaria sempre a serviço das direitas e dos militares e coisa e tal, quando sua verdadeira veia maléfica se esconde na área musical.

Esse tipo de famoso nunca me enganou, graças a Deus. O famoso Naldo não era famoso Nada. O fiasco da gravação de seu DVD é só a prova de como a Globo cria famosos artificialmente. O famoso Naldo fez um show em Manaus há alguns meses. Conheço gente boa que foi ver e voltou com cara de quem tomou 5 litros de Dipirona Sódica. Nessas coisas, Manaus me serve como um ótimo termômetro cultural: se nem manauaras conseguem aguentar o famoso Naldo, é porque musicalmente o famoso Naldo não vale nada.

O famoso Naldo era casado com uma mulher, saiu de casa um dia depois de gravar com a famosa Moranguinho, que frequentava os churrascos do Adriano; Aí o famoso Naldo aparece do nada, já famoso, em cima do trio elétrico de Ivete Sangalo? E depois aparece no Fantástico, no Mais Você, na Xuxa, no Altas Horas, na Malhação, no Esquenta, no Luciano Huck e no Video Show. Aí o famoso Naldo começa a espalhar fãs frustrados pelo Brasil, shows com atraso e recheados de pout-pourris medonhos. Acaba numa casa de shows vazia, tendo que importar fãs e constranger famosos…

O famoso Naldo não é nada. É só a cara da música brasileira que a Globo inventou.

E a cara da música brasileira que a Globo inventou é uma casa de shows vazia, com produtores e técnicos violentados, estrelando fiascos que serão transformados em sucessos por jornalistas igualmente violentados.

Mais importante do que retratar a derrocada do famoso Eike Batista, a Globo deveria assumir o prejuízo e explicar a derrocada do famoso Naldo.

FONTE: O Malfazejo

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